O FIM DO PRECONCEITO RELIGIOSO ( O PIOR DELES ).

Atos 10 e 11.

Cornélio era um homem piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, conforme as Escrituras. Fazia constantes esmolas ao povo e de continuo orava a Deus. cap Atos 10:1- 2.

Com isso, Deus mostrou que Cornélio com toda a sua família, era um homem integro e reto mesmo sem ser “crente”, ou seja, estar no rol de membros de nenhuma “igreja”, e Deus assim o aceitava. V. 35.

O mesmo não se podia dizer acerca de Pedro e a igreja em Jerusalém. Pedro primeiro teve uma experiência em certa visão em que uma Voz lhe ordenara que comesse alguns animais considerados imundos pela Lei de Moises. Disse a Voz: mata e come. Pedro respondia: de forma alguma Senhor comerei algo imundo. Porém a Voz lhe disse: não consideres imundo aquilo a que Deus purificou.



Quantas vezes nos consideramos imundo aquilo a que Deus já purificou e em outras vezes consideramos santo aquilo que é imundo. Parece que Deus vê a coisa de outra forma.

Jesus disse que o que contamina o homem não é o que entra, mas o que sai da boca do homem, isso sim é o que o contamina. Mas nós ainda, de alguma forma presos aos rudimentos da Lei, e na pior das hipóteses ao entendimento farisaico da escritura, continuamos a pensar e crer que o que contamina o homem é o que entra e não o que sai de seu coração. Nossa visão ainda é presunçosamente exterior e religiosa.

Do coração do homem é que provêm os maus desígnios, as blasfêmias, adultérios, dissensões, murmurações, avarezas, concupiscências e tudo o mais que assim sendo carrega o sentido de imundo e profano. É no coração que estas coisas nascem e dão origem ao pecado conforme a inclinação própria de cada um de nós.

Deus não julga a ninguém com esses critérios da moral dos homens. Para Deus o que realmente contamina é o que sai. Por isso que Cristo disse: e conhecereis a verdade e ela vos libertará. Uma vez livres e curados por Deus em Cristo de nossas dores e enfermidades e dos pecados, as pulsões dos nossos pecados começam a perder a força em nossas vidas pois o velho homem passa a dar lugar ao novo, e nesse novo homem passa a habitar a Paz do Espírito, e uma vez em paz com Deus, o pecado que é rebeldia passa a estar sob o controle dessa paz, pois quando em paz e agradecidos ao Deus da paz, buscamos andar buscando as coisas que são de cima, permitindo a Deus que continue transformando o nosso entendimento, ainda que venhamos a pecar, para que a cada dia possamos experimentar a boa e agradável vontade de Deus.

Todo esse processo é interno e não externo.

Jesus muitas das vezes condenou os fariseus por limparem o exterior do prato e do copo enquanto que o seu interior estava sujo. Chamou-os assim de sepulcros caiados. Por fora bem cuidados conforme os rigores da Lei, mas por dentro cheios de toda sujeira e imundície.

Deus vê assim em Cornélio o contrário do que nós vemos muitas das vezes com o nosso senso de moral secular ou “cristã”. Para Deus Cornélio era um homem temente e justo e por isso ser aceitável. Tanto o foi que após receber uma orientação de um anjo de Deus, enviou seus homens para buscarem a Pedro conforme e narrativa de Atos 10.

Mas qual de nos não pode negar que Cornélio era um ímpio cheio de boas ações. O mais lúcido de nós citaria a Cornélio o que disse Tiago: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem." (Tiago 2 : 19). Nós o consideraríamos uma dessas pessoas boazinhas, mas sem Deus. Afinal de contas, ele nem estava na igreja. Mas Deus já o tinha aceitado, tanto que suas orações e esmolas, bem como de toda a sua família subiram para memória diante de Deus.

Isso me leva a crer que Deus tem muitos outros filhos e que nem todos eles estão no rol de membros da “igreja”. São pessoas que a meu ver aprenderam com Salomão o que quer dizer: "De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem." (Eclesiastes 12:13)

Cornélio parece ter entendido muito bem o que disse o irmão Salomão. Só nós que não. Alguns de nós parecem ter chegado a tal entendimento, se já há muito não nos afastamos dele. Só achamos isso possível apenas após a conversão, somente após ter um dia termos aceitado a Cristo através da informação (pregação). E ai veio em nós o desejo do temor a Deus e obediência segundo a sua Palavra. Cornélio parece ter percebido isso antes. Não que Cristo não fizesse nenhuma parte nisso, pelo contrário, por Ele e para Ele é que todas a coisas existem. Assim, o que dizer de Abraão que sem Lei (a Lei veio muito mais tarde por Moises), ou sem nenhum curso teológico, sem conhecer a doutrina da salvação como sistematização para ser salvo, foi chamado de amigo de Deus. O que dizer de Noé (o bebum pos-dilúvio), Adão (o primeiro pelo qual veio o pecado), Enoque ( que andou com Deus), Jacó (o enganador que amou a benção), José (o desprezado). A lista é grande desses que são amigos de Deus.

O Espírito de Deus é quem convence o homem da justiça do pecado e do juízo de Deus (João 16 : 8). Ora como negar a ação do Espírito na vida de Cornélio, pois ele não apenas temia a Deus, mas procurava fazer o bem. Como negar ser ele uma arvore de bons frutos. Mesmo sem ser membro de nenhuma “igreja”, mas sendo membro de uma Igreja bem maior, o Corpo de Cristo, ele praticava as obras que todos nós só praticamos após o nosso encontro com Jesus.

Jesus nos ensinou a não julgarmos os homens pela aparência, mas pela reta justiça (João 7:24). Jesus vê o coração e não a performance exterior. Mas somos nós que dizemos se não se converter vai para o inferno. Teme a Deus e faze o bem é a resposta do profeta. A este Deus o acolhe e recebe.

O problema parece ser grupal. Se não faz parte do nosso grupinho ou clubinho vai para o inferno mesmo. Em Marcos 9:38-40 vemos um homem que não fazia parte do “clube” dos doze, (não que fosse clube aos olhos de Jesus mas aos olhos de João e dos demais o era), e logo o queriam repreender. Disse Jesus quem não é por nós é contra nós. Jesus não o repreendeu como queriam os seus discípulos-apóstolos, mas os ensinou que não é por fazer parte do clube, mas tão somente por crer.

Tem gente que está no caminho e nem sabe que está. E tem gente que pensa estar no caminho e não está. O bom samaritano de Lucas 10:33 é o primeiro caso dos que estão e não o sabem, muitas das vezes por causa da discriminação que recebem dos religiosos que só enxergam os que pertencem ao seu grupinho. Os fariseus, doutores da Lei, e não poucos sacerdotes e levitas de hoje acabam fazendo parte do segundo grupo, simplesmente por serem os seres mais sem compaixão e sem misericórdia que possam existir. Estes quando vêem o próximo no buraco das amarguras e dores logo perguntam: Quem cometeu pecado este ou os seus pais? A resposta Divina é certeira cheia de amor e misericórdia: nem ele nem seus pais, mas foi assim para que nele se manifestassem as obras de Deus.

A falta de misericórdia é a marca dos tempos de hoje. Hoje o amor às almas perdidas é coisa do passado. O negócio é encher a “igreja”, o clube dos salvos. E esse é realmente um grande negócio, é só vermos a grandiosidade dos templos de hoje. Parece até competição para ver quem faz o templo mais pomposo como forma de demonstrar que Deus está ali. Porém a falta de amor e misericórdia se revela no dia a dia quando estes que cuidam de tais templos passam ao largo dos necessitados a beira do caminho, a não ser que eles deixem uma boa “oferta” aos pés do sacerdote. Enquanto isso em nome do “evangelho” muitos irmãos passam por necessidades, afinal os recursos “recolhidos” são para as despesas do templo. Eu nunca li um versículo si quer em que Jesus diz ter morrido pelo templo, mas toda a bíblia, de versículo a versículo, mostra que Jesus morreu para salvar o homem dos seus pecados e conseqüentemente do juízo de Deus.

A fé sem o amor e a compaixão se torna um tipo de nazismo “cristão”. Cega todos os seus seguidores. Só a fé que opera pelo amor e compaixão é que pode trazer a real cura ao coração do homem. Hoje é a fé pela fé. É para provar ao homem que Deus é Deus e que tem poder e que por ter poder o homem deve temê-lo, ou melhor, ter medo, afinal se Ele é Deus e você não crer Ele pode a qualquer momento trazer o juízo sobre o homem. E nesse caso se um religioso, ainda que “cristão”, vê um homem moribundo ao lado do caminho, passa logo de largo, afinal se está assim algum pecado tem. Mas os samaritanos excluídos pela moral religiosa acabam por ter a compaixão e amor devido ao próximo. Bem aventurados os samaritanos que assim procedem, pois dos tais é o reino de Deus.

Quem tem coragem de negar. Ora se aqueles que estavam incumbidos como despenseiros de Deus, mas negando-lhe o Nome, de serem portadores de boas novas de misericórdia e amor e o não fizeram, como poderão estes e todos os que assim procedem entrar no Reino de Deus. Por essas e outras que Jesus disse ser a porta do Reino estreita. Os presunçosos, jactanciosos de serem alguma coisa não sendo nada, ou seja, são mentirosos, pois confessam a Deus com os lábios mas os seus corações estão longe dEle. Se estes não herdarão o Reino de Deus, a menos que se arrependam, o que dizer dos bons samaritanos, que excluídos pelas vaidades dos promotores de religião, ainda que muitas das vezes disfarçada de cristianismo, como não o herdarão. Não julgueis e não sereis julgados. Só Deus julga com equidade. A nossa justiça é trato de imundícia.

Bem aventurados os Cornélios e os bons samaritanos, pois dos tais é o reino de Deus.

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