Tenho lido alguns textos e uns dos que mais me chamam a atenção é quando Jesus demonstra comer e beber com os pecadores. Isso é extremamente desconfortante aos nossos olhos religiosos. Em mais de 14 anos de evangelho sempre vi pessoas sendo desprezadas, desacreditadas, ofendidas e humilhadas simplesmente por terem um comportamento igual ao que Jesus demonstrou.
Ao que vemos parece que Jesus nunca teve problemas em comer e beber com pecadores. Para Ele essa era a sua missão, estar no meio deles, pois os sãos não precisam de remédio, mas sim os doentes. Ele veio para chamar os pecadores ao arrependimento.
A primeira vista parece que estou preocupado em discutir acerca de doutrinas denominacionais. Não, não estou. Creio que Jesus nos deixou o exemplo. E não vem com essa de que o vinho daquela época não era alcoólico e que era suco de uva, pois não era, essa foi uma mentira ensinada por muitos.
Desde o início da Bíblia o vinho sempre fez parte das solenidades do povo judeu. Em tais solenidades o povo era chamado para comer e beber (vinho) em suas festas sagradas. Noé plantou uma vinha e dos frutos dela (uvas) fez o vinho com que se embriagou (Gn 9:20-25). Estranhamente a maldição recaiu sobre seu filho que lhe vira nu e fora contar para os seus irmãos. Não houve maldição sobre Noé pela embriagues e olha que ele viveu ainda 350 anos após o dilúvio. O pecado consistiu na atitude do filho de Noé (Canaã) para com o pai. Com o senso religioso e moral com que aprendemos por que não nos perguntamos porque Noé não foi igualmente punido por Deus. Noé não escandalizou porque bebeu e embriagou-se. Ele não havia escandalizado ninguém. Quem trouxe o escândalo foi o seu filho (Canaã) que desonrou a seu pai. Se noé simplesmente tivesse caído no sono depois do pileque que tomou, ninguém teria ficado sabendo, somente Deus, e Este não o imputou isso como pecado.
Na igreja primitiva servia-se vinho nas santas ceias (1Co 11:21). Não era suco de uva, era vinho. Isso fica claro ao vermos que alguns se embriagavam durante a ceia. Paulo não condenou o uso do vinho, mas sim o seu mau uso (embriagues). Ou alguém lembra do apostolo ter dito: não tomeis vinho, mas substutiam-no pelo suco de uva pois este não contém álcool. Não, ele não disse isso. O que hoje se pratica nas igrejas é algo a que Paulo condenou e chamou de rigor ascético. Coisas semelhantes a estas que tem aparência de santidade, mas que não tem nenhum poder contra a sensualidade, obras da carne, ( Cl 2:16-23).
Mas como disse o que aqui escrevo não é para discutir doutrinas e sim algo muito mais profundo.
Jesus não tinha esse repúdio “santo” que muitos de nós temos hoje. Ele foi chamado de glutão e bebedor de vinho e nem por isso se escandalizou com as pessoas achando que o seu ministério estava tomando um caminho diferente do que o Pai lhe dera.
O nosso rigor ascético simplesmente condenaria o próprio Senhor Jesus. Ora, se condenamos algum irmão que tenha tal comportamento (imagine você, ou o seu pastor ou aquela irmãzinha do circulo de oração tomando um gole em casa com amigos ou irmãos, não seria a mesma coisa), em outras palavras condenamos o próprio Senhor que por nos morreu como ovelha imaculada. Assim desfazemos o escândalo da cruz por causa do nosso falso senso de moral religiosa.
Volto a dizer: a questão aqui não é doutrinária, vai além. Estas e outras questões do tipo não coma isso, não beba isso, não vista aquilo, não entre em tal lugar, não fale e não ande com não crentes, não se relacione com eles, não freqüente os seus lugares e outras coisas semelhantes que nenhum poder tem contra a sensualidade. Só faltou dizerem: não viva.
Muitos se escondem atrás de suas mascaras. Não bebem uma cerveja mas vivem embriagados pela falta de perdão. Não comem coisas “contaminadas” mas o seu interior está cheio de amarguras, iras e contendas. Dizem que o único lugar a se freqüentar é a igreja mas os seus corações ficam bem longe do verdadeiro significado do viver em comunidade, de uma vida de ajuda mútua e solidária.
A conseqüência disso tudo? O afastamento de muitos sedentos por vida. Quando falamos em Jesus as pessoas logo pensam nas coisas que teriam de largar para ser crente. Temos nos colocado como os fariseus. Temos deixado de ser o povo eleito para ser um tipo de raça pura a la Hitlter. Os fariseus eram assim. Afastavam-se dos pecadores. Não se relacionavam com eles por medo de se contaminarem. Comer e beber com eles com pecadores era ser igual a eles. Porém Jesus os chamou de aves de rapina e sepulcros caiados. Eram o prato e o copo limpos por fora, mas sujos por dentro.
Jesus não teve medo se estar no meio do povo. Não teve medo de tocá-los. Não se escandalizou em comer e beber com eles. Nem com uma prostituta que regava os seus pés com lágrimas seus pés e os enxugava com seus cabelos, mesmo sendo acusado pelos fariseus: se este fora profeta saberia quem era ela. Não tinha receio de entrar em suas casas e com eles cear.
O que hoje fazemos acaba por limitar em muito a ação do evangelho nas vidas das pessoas. Esse “santo” distanciamento a la fariseu só cria nas pessoas um repúdio a fé em Cristo, pois nos colocamos como os “santos” e os outros os impuros. Não era isso o que os fariseus faziam.
Se somos luz é para brilhar nas trevas. A nossa liberdade nunca deve ser confundida com libertinagem. A nossa liberdade em Cristo caminha de mãos dadas com o domínio próprio daqueles que possuem o Espírito dEle. Se somos luz, brilhemos. Se é luz iluminará os que estão nas trevas. Se ouviram o Mestre, ouvirão a nos também. Se perseguiram a Ele, igualmente a nós. Não podemos ser diferentes do que Ele foi, e isso pode até assustar alguns.
Jesus disse que se o sal perder o sabor para nada mais presta. E para que presta, digo eu, um sal dentro do saleiro(igreja). O sal só tem o seu valor como sal se salgar. O sal tem que sair do saleiro para salgar as vidas das pessoas com seu bom tempero, levando sabor as suas vidas. Sabor de vida em abundância.
Um Deus que como e bebe com pecadores. Que não teve medo de se misturar com os rejeitados pela religião de sua época. Que não fez pouco caso deles. Soube se misturar sem perder o sabor. Sabia quem Ele era e a sua missão. E quando se sabe quem se é não há medo de se ser. Se Ele foi, nós também podemos ser, pois Ele disse que estaria conosco todos os dias.
É claro que a religião instituída de nossos dias considera tudo isso uma ofensa a si mesma. Porém o alerta de Jesus ainda vale: os sãos não precisam de remédio e sim os pecadores. Chega de holocaustos. Deus quer misericórdia.
Quer bebais ou comais ou façais outra coisa qualquer, que seja feita para a glória de Deus (1Co 10:31).
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