O CRENTE-PAPAGAIO

Já faz tempo (eu ainda tinha muito cabelo. Rsrsrs) em que muitos gostavam de papagaios. Todo mundo queria ter um papagaio em casa. Afinal é um bicho engraçado, que depois que aprende, repete tudo que lhe foi ensinado. O problema é que ele, o papagaio, repete tudo mesmo e o tempo todo. Se você ensiná-lo um palavrão ele vai aprender. Se você ensinar coisas boas também. É impressionante a capacidade do bicho em reproduzir a fala.
O problema apenas consiste em que o papagaio não reproduz, neste sentido, nada por consciência, mas por mera repetição do que lhe foi ensinado. Por isso que ele pode dizer tanto coisas boas como ruins, depende muito de como ele foi ensinado.
Assim também é a vida e a vida no evangelho. Depois de muito ouvir sobre o crente-galinha, o crente-águia, agora temos o crente-papagaio. Repetem, repetem e repetem o que lhes foi ensinado na maioria das vezes sem nenhuma reflexão, se de fato, o que dizem tem realmente haver com o evangelho de Jesus. Muitos são tão bem treinados que tornaram-se verdadeiros papagaios sem consciência, o que para os domadores de papagaios, é ótimo.

Afinal quem gostaria de ter um papagaio, que depois de ter sido ensinado e que descobrisse a verdade, resolvesse dizer apenas o que é certo. O bicho logo perderia a graça e não seria mais objeto de desejo. Logo para muitos é bom que o papagaio seja como é um ser sem consciência própria e que repete tudo mecanicamente, sem que com a mente-consciência discirna o que tanto reproduz.
Por exemplo, respondendo ao questionamento de um amigo, muitos de nós fomos ensinados que:
1- Para subir ao céu a pessoa tem que estar dentro da igreja-instituição, o que não é verdade. Isso é limitar a graça de Deus dentro de quatro paredes. Uma vez questionei uma pessoa sobre a passagem de Mateus onde um grupo de indivíduos que crera no evangelho de Jesus e que expulsava demônios em nome de Jesus e que não faziam parte do grupinho dos discípulos-apóstolos, ao qual Jesus disse: “quem comigo não ajunta espalha”, se estes eram salvos. A resposta me surpreendeu: não podemos ensinar isso senão o povo deixa de vir para a igreja.
2- Foi ensinado que quem não dá o dizimo está em pecado e sob maldição conforme Malaquias 3:10. Ora isso se tornou o prepúcio de muitos crentes. Na lei quem era circuncidado era salvo. Na igreja-instituição quem não dá o dizimo está em pecado e vai, portanto para o inferno. Ainda não se entendeu que se deve dar por amor. Mas como o amor “parece ser um dom muito poético” é melhor apelar para a lei de Moises, conforme se faz. Assim é mais seguro confiar na lei do que na graça.
3- Sou de um tempo em que se ensinava que crente não ai a praia, ao cinema, não ouvia música “mundana” (acho horrível esse termo), não podia beber e nem fumar, usar camiseta e nem camisinha, faltar aos cultos sob pena de perder a benção, que se cria em maldição hereditária, das muitas correntes que não podem ser quebradas; senão a benção não vem, tomar remédio era síndrome de falta de fé.
4- Foi-me ensinado que quanto mais eu orasse, lesse a Bíblia, jejuns, fosse aos cultos, participasse das correntes de oração, vigílias, encontros, seminário, retiros e claro desse o dízimo e a oferta, pois não dá para praticar todas essas coisas e ser um mão de vaca, mais Deus se agradaria de mim e eu conseguiria o que desejava. Pura barganha, troca, nada por amor. O negócio era o seguinte: toma lá, dá cá.
5- Crente com problema, não se importando a dor que ele estivesse sentindo, era um péssimo negócio para a igreja-instituição. Afinal o que pensariam os de fora, que aquela igreja não prestava, que era fraca e fria. Afinal as pessoas entram e ficam piores. Porém nunca fui julgado pelos “de fora” só pelos de dentro.
6- Se você estiver num culto e não pular, bater palmas, gritar, der brados de aleluia (bem altos, baixo é prova de falta de fé), é porque é frio, não está sentindo a presença de Deus. Se estiver triste pior ainda, pois é proibido demonstrar tristeza, pois tristeza é coisa do diabo.
7- Aliás, muitas coisas são do diabo, por exemplo: a roupa que a grife da igreja não aprovar para o fashion week gospel, a bebida (para alguns vinho pode, está na bíblia, Jesus bebeu, pode, mesmo que o vinho tenha, nas menores das proporções, o dobro de álcool de outras bebidas), a comida (culinária baiana de jeito nenhum, pois é consagrada aos espíritos), os lugares a se freqüentar (o itinerário tem que ser: casa-igreja, igreja-casa, trabalho-igreja, igreja-trabalho, qualquer outro é descaminho), as pessoas com quem andar (só pode crente), o trabalho (caso o mesmo te impeça de ir aos cultos), a namorada (pois pode atrapalhar a sua vida espiritual, se não for da igreja nem pensar, é crime), jogo de cartas (dá idéia de uma coisa embaralhada, rsrsrsrs, deve ser por isso que o nome é baralho). Festa? É coisa de ímpio (tem música mundana, cerveja, gente bonita – tentação – gente que fuma...). Na hora do culto, receber um amigo ou parente em casa, ou ir visitar alguém devido a uma necessidade, é o diabo querendo que você não vá à reunião.
8- Sobre mais coisas que o crente-papagaio costuma repetir leia: http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&id=1570

Todo mundo repetia e se bobear ainda repete estas mesmas coisas dado o vício da repetição que se instalou neles.

A verdade é que é proibido pensar, (papagaio não pensa, repete), leia: LÁ É PROIBIDO PENSAR! Em: http://www.caiofabio.net/2009/conteudo.asp?codigo=04423

Quase virei um papagaio desses. Mas alguma coisa dizia que não era assim. Deus me guardou de virar um papagaio. Quando comecei a falar com consciência própria, logo comecei a ficar desinteressante para os domadores de papagaio. Afinal é tudo o que eles não querem é alguém com consciência. E ai nada mais de “dá o pezinho loiro” ou “aquele cafuné no cangote”. A menos que você volte a ser o papagaio de sempre, nada mais lhe resta, a não ser ficar ouvindo que: este papagaio para nada mais presta.
Paulo nos convida a renovarmos nosso entendimento, afim de que experimentemos qual é a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Não dá mais para ficar repetindo coisas sem sentido tanto para a vida como para o evangelho de Jesus.
Mais do que nunca, aquilo que em Jesus foi encarnado e vivido é que deve ser reproduzido em nós e não aquilo que mesmo sendo dito em nome de Jesus, nada tem haver com Jesus.

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